“uma sede e uma fonte”
Paul Valéry

Qual a importância do contato e do diálogo entre os indivíduos de um espaço? Terão estes alguma influência no modo de apreensão do cotidiano, que envolve sujeito, objetos e a ação que está entre os dois? Poderá ser o artista e sua obra amplificadores de apreensões e disparadores de novas e distintas reações entre homem e mundo? O espaço e o contato são o duplo desafio desta proposta. Eles não possuem donos, nem limites e tampouco, barreiras, estando à espera de um aventureiro que os desmistifique. O espaço partiu-me do corpo, do objeto, da galeria e do atelier. Levou-me, pela Deriva situacionista à rua, esse incansável espaço público e urbano, porém, não um qualquer, mas o que está em situação dentro do conturbado contexto do centro de Porto Alegre. O contato é o cerne da questão presente. Por ele aproximo-me, dialogo, apreendo. O que se pode descobrir de si, pelo outro, é experiência rica, que expande o conhecimento do mundo abrindo-nos às mais inimagináveis apreensões cognitivas que, pelo uso da filosofia da práxis, são após codificadas, postas em ação, verdadeira e atuante para a “prova” de algo, até então, novo. O contato, seja físico ou pela palavra, tornou-se busca incessante neste projeto, após perceber que , era ele, o maior contribuidor para a apreensão do espaço. Seguindo a linha de estudos materialista dialética, isto é, que pensa o homem como ser “histórico, influenciado por sua época, meio social e geográfico, mas capaz de reagir (...) ao mundo em que vive” ( COTRIN, 1997: p. 258 ), e atuando sob a área de poéticas visuais, iniciei o trabalho de analisar o espaço do centro de Porto Alegre a partir dos diálogos que vou estabelecendo com cinco situações , que me são referenciais do local e que elegi pela técnica de deriva situacionista, buscando não intervir em sua rotina, mas acrescentar-lhes um momento de intercambio de idéias e posicionamentos. Desde primeiro encontro, construo objetos de troca e desdobramentos para galeria, em geral instalações, que são produtos links com os contatos e situações vivenciadas nos cinco pontos eleitos. A análise da trajetória que tramei ao longo dos quatro anos estudados dentro de uma academia de artes, foram o estopim do projeto que, evitando repetir erros, e destacando os logros, descobri estar no contato, criado em ações artísticas urbanas, o maior enriquecimento pessoal, que é, muitas vezes, considerado mais arte que qualquer objeto assim chamado e inserido alheiamente na rotina de um espectador, que aqui passa a ser participador intenso da ação.

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